Theia, startup de saúde da mulher, recebe aporte de R$ 30 milhões
13 de abril 2022 Paulo Araripe Jr.
Após abrir unidade física, companhia quer avançar no território dos planos de saúde; com investimento, equipe deve crescer
Apesar de as startups de saúde (healthtechs) terem ganhado corpo no Brasil nos últimos dois anos, companhias voltadas para a saúde da mulher (femtechs) nem sempre tiveram destaque. Isso pode estar começando a mudar com a Theia, startup que começou como um serviço de telemedicina e que recentemente inaugurou uma clínica em São Paulo. A companhia anuncia hoje um aporte de R$ 30 milhões, liderado pelos fundos 8VC e Canaan, ambos estrangeiros e especializados em saúde.
“Parte do investimento será usado para montar um centro científico, no qual vamos refinar nossa metodologia”, diz ao Estadão Flávia Deutsch, cofundadora da Theia.
Segundo ela, o dinheiro vai aumentar o time de profissionais da saúde, além de ter parte destinada para o time de tecnologia. Os novos contratados atuarão tanto na plataforma da startup, que é utilizada para as consultas e acompanhamentos virtuais, quanto nos serviços oferecidos na clínica.
Depois de saltar do online para o mundo físico, a Theia quer dar um passo também em direção ao universo dos planos de saúde, complementando a oferta de consultas particulares. Para Paula Crespin, também cofundadora da startup, esse é um ponto essencial para dar escala ao negócio. “A gente quer entrar no mundo do plano de saúde porque são poucas as mulheres que podem pagar por consultas particulares. Já estamos em negociações, e a rodada tem a ver com isso.”
AMOR DE MÃE. Criada em 2019, a Theia foi gestada juntamente com o segundo filho de Flávia e o primeiro de Paula Crespin: o nascimento das crianças coincidiu com o lançamento da startup. Coincidentemente, o aporte chega em momento de nova gravidez para as duas. E o crescimento da “equipe” não será apenas na casa das executivas. Hoje, a Theia conta com 50 pessoas, a maior parte no time de tecnologia. A ideia é chegar a 100 até o fim do ano.
Os novos bebês vão permitir que as fundadoras experimentem o serviço da startup integralmente. No início, todas as consultas eram online, mas com a crescente oferta de serviço, Flávia e Paula decidiram que era hora de abrir uma clínica física. O espaço permite a realização de exames específicos, que não podem ser feitos de forma remota.
“Quando entendemos que a gente tinha uma base sólida, lançamos a clínica. É um lugar que representa muito os nossos valores e, quando demos esse passo, fomos para o mercado buscar uma rodada de investimento”, explica Flávia. “Agora é hora de escalar essa operação e investir ainda mais em tecnologia.”
PASSOS. Embora a fase de engatinhar esteja ficando para trás, o mercado de femtechs ainda tem um longo caminho. Tanto para empresas fundadas por mulheres quanto para as que apostam em serviços de saúde voltados para elas, o cenário ainda é desfavorável.
Gilberto Sarfati, professor da FGV, afirma que ainda é difícil ver o crescimento dessas startups por um problema que começa na raiz da cadeia de inovação: a presença feminina em fundos de investimento e na fundação de startups ainda é pequena no Brasil.
Entre as quase mil startups de saúde existentes no País, apenas 23 são voltadas para cuidados com a mulher, de acordo com relatório da empresa de inovação Distrito. As fundadoras são apenas 4,3% do total, segundo o movimento Femtechs Brasil.
Por outro lado, o potencial do mercado é grande. Na gestação, por exemplo, o parto é um dos momentos de maior insegurança das mães – tanto em relação aos profissionais quanto com a forma com que os procedimentos são realizados.
O Brasil é um dos países que mais realizam cesáreas no mundo e, segundo o Painel de Indicadores de Atenção Materna e Neonatal de 2021, 84% dos partos da rede particular no País não são naturais.
Esse é um dos pilares de trabalho da Theia, que já consegue ter a taxa de partos normais em 50%.
“É um setor incipiente mas com enorme potencial. Mais gente vai olhar com interesse este mercado”, pontua Sarfati.
É uma visão que Maria Fernanda Musa, diretora de aceleração de negócios da Endeavor, também compartilha. “Ainda é um segmento que está começando, mas vamos ver cada vez mais empresas surgindo. Elas aliam fatores favoráveis para o crescimento.”
Já começam a surgir outros exemplos: a Vibe Saúde, de telemedicina, criou uma divisão apenas para mulher. Já a Oya Care recebeu um investimento de R$ 16 milhões.
Para a Theia, a ideia é virar um “hub da maternidade”. “A gente quer ser um centro de saúde da maternidade. É o momento mais agudo no universo em que a gente atua”, afirma Paula. •
“Parte do investimento será para montar um centro científico, no qual vamos refinar nossa metodologia.” Allan Josefh Fisioterapeuta.
Autor: Bruna Arimathea
Referência: O Estado de São Paulo