“Não podemos mais ser pegos com o despreparo que a Covid nos pegou”, alerta Margareth Dalcolmo no último dia de Conahp 2022
11 de novembro 2022 Paulo Araripe Jr.
Em debate, pesquisadora fala sobre os problemas crônicos agravados pela pandemia e aborda, junto à Mariângela Simão e José Henrique Germann, soluções a partir de medidas colaborativas entre poderes público e privado
Para marcar o último dia de Conahp 2022, especialistas se reuniram nesta sexta-feira (11), às 10h, para falar sobre propostas e desafios enfrentados pelos sistemas de saúde pública e suplementar no combate às sequelas da Covid-19.
Sob o tema “O impacto da pandemia de Covid-19 nas condições crônicas: como preparar o sistema para essa nova realidade”, Mariângela Simão, diretora-geral adjunta de Medicamentos e Vacinação da OMS; Margareth Dalcolmo, pesquisadora da Fiocruz; e José Henrique Germann, ex-secretário da Saúde do Estado de São Paulo, debateram o cenário atual da saúde no país e os caminhos possíveis para a melhoria da assistência à população.
Para abrir o tema, Mariângela apresentou dados do Brasil e do mundo que apontam para a necessidade de se desenvolver estratégias que absorvam a demanda elevada por atendimento a doenças crônicas, sejam aquelas que deixaram de ser diagnosticadas e/ou tratadas durante a pandemia, sejam as que surgiram no período pós-Covid.
“A Covid-19 tornou pior muitas coisas que já não estavam bem antes, levando ao aumento de incidência de diversas doenças e condições, como diabetes, hipertensão, câncer e problemas cardiovasculares e respiratórios, por exemplo”, alertou.
Com moderação do presidente do Hospital Israelita Albert Einstein, Sidney Klajner, Margareth e Germann ampliaram a discussão sobre o tema. Para a pesquisadora da Fiocruz, uma das principais referências do país durante a pandemia, não há dúvidas de que ninguém estava preparado para o enfrentamento das sequelas da Covid.
“Para atender a essa crescente e complexa demanda, torna-se fundamental pensarmos em modelos de assistência que ainda não temos hoje. Acredito que seja de suma importância criarmos centrais de atendimento adequadas para receber essa grande parcela da população que sofre com doenças crônicas provenientes ou agravadas pela pandemia”, reforçou.
Germann complementou, atentando para a necessidade de preparar o sistema para que haja condições de atender à nova situação. Conforme explicou, o Brasil atua hoje com duas situações: pessoas que ficaram aguardando o retorno dos atendimentos eletivos e pessoas que desenvolveram doenças a partir deste período. “É uma demanda muito maior, e está claro que o sistema não consegue absorver.”
Entre as soluções traçadas pelos palestrantes, a realização de um trabalho colaborativo que ocorra em parceria entre saúde pública e privada é uma oportunidade que deve ser considerada por todos os atores da saúde.
“O Brasil é um país cuja desigualdade é imensa, mas já tivemos a participação da iniciativa privada em grandes projetos de muito impacto ao longo da pandemia. Isso cria uma nova cultura colaborativa que acredito realmente que faria a diferença neste novo cenário que estamos enfrentando”, pontuou Margareth.
Os especialistas destacaram a necessidade de se criar políticas públicas a fim de suprir a elevada demanda e acreditam que o país tem condições de criar modelos de enfrentamento para que, no futuro, situações como estas não desestruturem o sistema de saúde da mesma forma.
“Seja no atendimento suplementar ou complementar, nosso grande esforço vai ser resgatar os serviços que sempre prestamos e que, agora, estão defasados frente ao aumento das demandas”, frisou Germann.
Nesse aspecto, Margareth destacou que contar com uma equipe de contingência qualificada é essencial. “Não podemos mais ser pegos com o despreparo que a Covid nos pegou. Teremos outras pandemias e precisamos estar preparados para lidar com isso. Precisamos formar um grupo de pessoas, incluindo personagens de órgãos públicos e privados, que possa ser acionado no momento oportuno com estratégias concisas.”
Para Mariângela, o Brasil pode aprender muito com a pandemia. “Precisamos refletir sobre tudo o que deu certo e o que não funcionou, não podemos voltar atrás em tudo o que avançamos neste período tão difícil. O Brasil tem condições de desenvolver modelos locais para superar esses obstáculos”, finalizou a especialista.
Conahp 2022
As perspectivas dos especialistas presentes neste debate fazem parte do macro tema do Conahp deste ano “Saúde 2022: a mudança que o Brasil precisa”.
O evento, promovido pela Anahp (Associação Nacional de Hospitais Privados), acaba hoje, mas o dia ainda reserva grandes encontros e temas importantes, como a saúde em um novo governo.
Confira aqui a programação!
Referência: Anahp