De sindicalista a chefe do maior fundo de pensão da América Latina
08 de março 2023 Paulo Araripe Jr.
Associações de aposentados da Previ dizem que indicação de João Luiz Fukunaga fere regulamento por falta de experiência
Formado em História e funcionário de carreira do Banco do Brasil, João Luiz Fukunaga, de 39 anos, assumiu no dia 28 de fevereiro a presidência da Previ, o fundo de previdência dos funcionários do Banco do Brasil (BB). A indicação trouxe preocupação a grupos de aposentados sobre sua falta de experiência para gerir ativos de R$ 250 bilhões que fazem do fundo o maior da América Latina.
Um dos questionamentos é que Fukunaga não teria passado três anos em cargo similar, requisito exigido a dirigentes de fundos pela Superintendência Nacional de Previdência Complementar (Previc), que fiscaliza o setor. Fukunaga sucedeu Daniel Stieler, que se aposentou. A nova presidente do Banco do Brasil, Tarciana Medeiros, o indicou para um mandato até 2026. Nos bastidores, comenta-se que a nomeação teve o dedo do ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, condenado na Lava-Jato por lavagem de dinheiro.
Chamou a atenção de interessados nos rumos da Previ a rápida aprovação de Fukunaga pela Previc. Ele foi indicado pelo BB em 24 de fevereiro. O conselho deliberativo da Previ aprovou no mesmo dia, e sua habilitação aconteceu no dia 27 de fevereiro. Ele tomou posse no dia 28.
O regulamento da Previ prevê 30 dias como tempo máximo para habilitar um indicado ao posto. Não existe prazo mínimo, mas uma pessoa que acompanha o caso avalia que quatro dias entre a indicação e a posse não seria tempo suficiente para a Previc e órgãos de governança do BB e da Previ analisarem um currículo.
Para ocupar o cargo, o indicado passa por um escrutínio detalhado, para que seja atestada a experiência necessária ao posto. Fukunaga começou sua carreira como professor de ensino médio, ingressou no BB em 2008 como escriturário e lá permaneceu por onze anos. Antes, atuou como pesquisador na área de educação. Ele também é mestre em História Social pela PUC-SP.
Sua mais recente ocupação foi de auditor sindical do BB, cuja função é levantar informações para a negociação salarial entre o banco e os funcionários. A indicação para o posto foi feita pela Contraf, entidade que reúne sindicatos de bancários. Em 2012, Fukunaga foi secretário do Sindicato dos Bancários de São Paulo e, depois, coordenador nacional da Comissão de Negociação dos Funcionários do BB.
CUMPRE AS EXIGÊNCIAS
Uma das exigências feitas pela Previc é que o indicado tenha pelo menos três anos de experiência “no exercício de atividades nas áreas financeira, administrativa, contábil, jurídica, de fiscalização, de atuária, de previdência ou de auditoria.” Para o Grupo Mais, que representa funcionários aposentados do BB, a Previc feriu seu regulamento ao aprovar a indicação. “Fere, essa agência reguladora, o seu próprio regulamento, que exige experiência comprovada de, no mínimo, três anos no exercício de atividades”, diz a entidade em nota.
Na segunda-feira, a Federação das Associações de Aposentados e Pensionistas do Banco do Brasil (Faabb) enviou representações a BB, Previc e Previ pedindo esclarecimentos sobre critérios da nomeação. A entidade questiona o fato de o indicado ter onze anos de carreira no BB, mas ter ficado à disposição do sindicato por dez anos. Também menciona a exigência dos três anos de experiência.
Ao GLOBO, Isa Musa Noronha, presidente da Faabb, diz que as cartas enviadas “pedem esclarecimentos sem desmerecer”:
– Ser sindicalista não é nenhum demérito. O que se questiona é a falta de expertise para lidar com o maior fundo de pensão da América latina.
A posse de Fukunaga marcou a volta de um sindicalista ao cargo máximo da Previ. Ligado ao PT, Sérgio Rosa foi o último a ocupar o posto, entre 2003 e 2010. Na sua gestão, o patrimônio saltou de R$ 43 bilhões para R$ 153 bilhões. Rosa comemorou a nomeação. “Creio que demonstrou grandes qualidades no exercício das suas atividades, conquistou o respeito e o reconhecimento que levaram à sua indicação, e acredito, portanto, que tem tudo para fazer uma ótima gestão”, disse em nota.
A Previ diz que a indicação de seu presidente “é realizada pelo patrocinador, o Banco do Brasil, e aprovada pelos órgãos de governança do BB, da Previ e da Previ” e ressalta que a habilitação de Fukunaga “dentro dos prazos previstos atesta o cumprimento de todas as exigências regulatórias para sua posse e comprova a conformidade exigida para o exercício do cargo.” Fukunaga não quis se pronunciar.
Autor: João Sorima Neto e Ivan Martinez Vargas
Referência: O Globo