Cade reprova compra da Smile pela Hapvida
11 de maio 2023 Paulo Araripe Jr.
Na avaliação do órgão, aquisição da operadora teria potencial de reduzir concorrência no Nordeste
Ação sobe Noticia foi considerada positiva pelo mercado: papel teve alta de 4.86%
Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) reprovou, ontem, a venda da operadora Smile Saúde para a Hapvida. O órgão argumenta que a operação teria “potencial de reduzir a concorrência” ao mercado de serviços médico-hospitalares no Nordeste.
Segundo dados do mercado, em fevereiro deste ano a Hapvida concentrava 31% do mercado da região.
De acordo com informações da própria empresa, o Grupo Smile tem cerca de 80 mil beneficiários, principalmente em Maceió (AL), João Pessoa (PB), Campina Grande (PB) e Brasília (DF).
A aquisição havia sido anunciada em fevereiro do ano passado por R$ 300 milhões. O caso passou a ser avaliado pelo Cade em junho de 2022.
– Três operadoras, Unimed, Hapvida e Smile, juntas, possuem quase 90% do mercado (na Região Nordeste). Com a operação, nós passaríamos a ter duas empresas operando e isso, na análise de rivalidade, junto a outros elementos, motiva a recomendação de reprovação – argumentou o conselheiro relator, Luis Henrique Braido, na sessão que julgou o caso, voto acatado por seis dos sete conselheiros.
Não é a primeira decisão do Cade a mudar planos de aquisição da Hapvida. Em novembro de 2021, o Conselho reprovou a compra da Plamed, operadora sediada em Aracaju (SE), após a Hapvida não cumprir exigência do órgão para efetivar a transação.
A decisão do Cade teve feito positivo sobre as ações da Hapvida. As ordinárias (HAPV3, com direito a voto) fecharam em alta de 4,86%, a R$ 3,02, após atingirem a máxima de R$ 3,11. No ano, os papéis acumulam queda de 40,75%.
– Este é um ano para levantar capital. Então deixar de pagar R$ 300 milhões foi uma notícia levemente positiva. A situação da empresa está bem diferente se compararmos com a época do anúncio. Foram várias aquisições inorgânicas nos últimos anos, que deixaram uma alavancagem alta, e agora, temos um cenário de juros e sinistralidade elevados – explica o chefe de pesquisas da Ativa Investimentos, Pedro Serra.
Em março, a Hapvida vendeu dez imóveis, por R$ 1,25 bilhão, para a LPAR, veículo de investimento da Família Pinheiro controladora da companhia. No mês seguinte, concluiu uma oferta subsequente de ações ( follow-on ) que movimentou R$ 1,06 bilhão.
Andre Mediei, economista especializado em saúde, consultor do Banco Mundial e das Nações Unidas, pondera que a decisão do Cade não significa um revés para esse mercado:
– O mercado ainda necessita de consolidação. Mas deve-se sempre avaliar a dimensão regional.
Procurada, a Hapvida não comentou a decisão. O GLOBO não conseguiu contato com a Smile Saúde.
Autor: Renan Monteiro, Vitor da Costa e Luciana Casemiro
Referência: O Globo