XP e BTG surfam na oferta verticalizada na previdência
24 de julho 2023 Paulo Araripe Jr.
Seguradoras próprias ficam com maior parcela dos clientes das plataformas
Em setembro, um investidor com cerca de R$ 300 mil na previdência de uma gestora independente na plataforma da XP pediu a portabilidade do seu plano dentro da plataforma. Engajado no acompanhamento da sua carteira, preferiu manter a seguradora Icatu por trás, embora a sua assessora tenha privilegiado alternativas com a XP Vida e Previdência nas recomendações. “Eu entendo que na previdência o risco é o da seguradora, preferi manter a antiga porque a XP ainda é nova nessa área.”
Com a sua seguradora criada há quatro anos, a XP tem surfado na capilaridade da distribuição que construiu via assessorias independentes. Conforme a sua prévia operacional, os ativos de clientes em previdência na plataforma alcançou R$ 64 bilhões ao fim de junho, um crescimento de 18% em 12 meses. O volume da XP Vida e Previdência atingiu R$ 51 bilhões, 30,8% a mais do que um ano atrás, mostrando que a produção da própria seguradora cresce em ritmo maior do que a de alternativas de terceiros na plataforma.
Segundo Roberto Teixeira, CEO da XP Seguros, a previdência alcança hoje cerca de 400 mil clientes do grupo, para uma base ativa de mais de 4 milhões, o que significa que dá para crescer muito dentro de casa. “Há uma preocupação genuína com a análise do perfil para alocar no portfólio correto”, afirma. Ele acrescenta que a XP também investiu em tecnologia para um autosserviço completo, acelerando a portabilidade num segmento que sempre foi muito analógico. Com esse ferramental, a venda consultiva caminha ao lado da digital.
Na prateleira como um todo são mais de 200 produtos. Com a crise de crédito, juros altos e os investidores privilegiando títulos bancários, a captação na previdência derrapou na primeira metade do ano. “O mercado ficou de lado, cresceu pela rentabilidade, mas a XP tem ocupado o primeiro lugar em portabilidade nos últimos três anos e em 2021 e 2022 também tinha sido líder em captação total. Este ano sofreu um pouco, mas foi pontual.” Ao mesmo tempo em que atraiu, até maio, R$ 5,1 bilhões de competidores externos, a casa cedeu o equivalente a R$ 2,1 bilhões.
Outro novo participante, com os primeiros produtos lançados em 2018, o BTG Pactual atraiu R$ 2,3 bilhões líquidos em portabilidade até maio, com R$ 16,7 bilhões na previdência. Na sua oferta, tem cerca de 250 fundos, sendo 110 da própria seguradora, e o restante com a Icatu. “Nosso principal foco é a plataforma de investimentos e nessa atuação procuramos o tempo inteiro reforçar a arquitetura aberta. O cliente não tem nenhum incentivo de entrar numa seguradora ou outra”, diz o sócio Marcelo Flora, diretor responsável pelos canais digitais e de intermediários financeiros.
O que se percebe é que o cliente ganhou capacidade para realocar os recursos conforme a percepção de cenário. “Em vez de resgatar ou tirar a previdência daqui, ele vê uma grade 100% diversificada e pode se autosservir, mudar o processo de investimento”, diz Gabriel Escabin, que lidera a área de previdência do BTG.
Seguradoras independentes acabam enfrentando a competição das plataformas onde distribuem seus produtos. “A concorrência é semelhante ao que se encontra no mundo dos fundos”, diz Marcelo Mello, CEO de Vida, Previdência e Investimentos da SulAmérica. “Tem que ter um produto competitivo e alinhado, com condições comerciais para assessores e outros intermediários. Estamos bem posicionados e neste ano a performance na própria XP tem sido melhor do que foi em 2022.”
O executivo diz que dificilmente qualquer seguradora independente vai ter uma posição maior do que a dos próprios grupos, “faz parte do jogo, está no preço”, mas vale ter a distribuição pulverizada. Do volume atual, Mello diz que 33% vem dos corretores, 32% das plataformas e o restante de gestoras de fortunas.
Depois de juros muito baixos na pandemia e a rápida aceleração para os 13,75% atuais, os investidores fugiram do risco também na previdência, diz Henrique Diniz, diretor de produtos de previdência da Icatu Seguros, que perdeu R$ 3,4 bilhões líquidos para a concorrência em portabilidade. Pioneira no casamento com assets independentes, com 130 parcerias, o executivo diz que estar nas plataformas não significa “dormir com o inimigo”. “Estar com diversas seguradoras dentro da mesma distribuição impõe um melhor produto e força a melhora do serviço, quem ganha é o cliente, a briga é para crescer o mercado.”
Autor: Adriana Cotias
Referência: Valor Econômico