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Opinião

Um momento para reflexão: será que a ponderação vem por aí?

16 de maio 2023 Marcio Serôa de Araujo Coriolano

Há pelo menos uma década o Brasil, e o Mundo todo, vem assistindo a reais e supostas mudanças de paradigmas comportamentais ainda não suficientemente avaliados em sua trajetória e futuro.

Parece que a formidável multiplicação de mídias sociais que vocalizam esses paradigmas – e a força da mídia tradicional que repete algumas tendências hegemônicas – contribuem para a consolidação de modismos e segregações políticas, econômicas, religiosas, étnicas, éticas e assim por diante. Todos e cada um hoje podem veicular suas próprias crenças ou amplificar “ad nauseam” crenças de diferentes grupos de interesse. Por outro lado, assistimos também ao enfraquecimento – nas escolas e na vida social – do conhecimento universal da filosofia, da história, economia política e da formação política como exercício da cidadania, deixando grande parte das pessoas vulneráveis a conceitos que se dizem disruptivos ou contemporâneos, sem apuração crítica que os coloque à prova.

O vocabulário das ideias e das propostas se estreitam, dando lugar privilegiado a bordões como “disrupção”, “resiliência”, “diversidade”, entre outros, fora os cada vez mais frequentes anglicismos que revelam as fontes mais importantes dos vários modismos nos campos empresarial e individual.

Nesse cenário – que parece ter vindo para desafiar a todos – segregações no campo da atividade profissional vão e vem. Tudo dependendo da capacidade de mobilização dos grupos que buscam espaço nas segregações. Gênero, raça e etarismo são os predominantes. Óbvio que oportunidades para todos e todas são uma conquista civilizatória recente das quais temos que nos orgulhar e persistir. Porém, tal como um espelho dessas condições, a complexidade e abrangência da crise econômica, política e de costumes que o Brasil atravessa precisará muito menos de segregações e mais de virtudes que devam ser encontradas em cada um dos cidadãos, independentemente dos atributos de credo, raça, extração social e faixa etária. Foi assim – reunindo os cidadãos – que o Mundo obteve transformações para o progresso como as da Revolução Francesa, Americana do Norte, derrota do nazifascismo, descolonização, entre outras ainda presentes no debate e imaginário universal.

O Brasil é uma nação relativamente jovem, enfrentando, na atual quadra, a concorrência de nações que acumularam mais progresso material, educação e produtividade. Decorre disso que será no mínimo uma estupidez o desinvestimento em educação e abandono do aproveitamento de todas as habilidades que possam caber em tarefa de recuperação do progresso e bem-estar da população brasileira. Novamente, independente de segregações de cunho ideológico e provindas de grupos de interesse com visão estreita do futuro.

No campo das atividades dos seguros, o Brasil está sabidamente atrasado. E para além dos problemas estruturais de renda para consumo e investimento e carências educacionais, a sua (dos seguros, e seguros e planos de saúde) imensa cadeia produtiva precisa ser aproveitada com o concurso de profissionais de todas as origens, mobilização essa baseada principalmente na formação dos recursos humanos e no universal sistema de mérito.

A ponderação entre oportunidades contrárias ou complementares parece ser matéria escassa nestes nossos difíceis tempos de transformações aceleradas. Não podemos perder tempo. As atuais e futuras gerações brasileiras precisam do diálogo, do encontro e da superação. Oxalá esses três atributos venham a substituir a vocalização das segregações em curso.