Opinião
Como é que comunica seguros?
24 de maio 2023 Marcio Serôa de Araujo Coriolano
1 – Tal qual a Esfinge de Tebas, da Grécia antiga: – “Decifra-me ou te devoro”. Apesar do impressionante esforço de décadas para comunicar (explicar, esclarecer, informar, argumentar) as virtudes e utilidades dos seguros, o tema ainda assombra o setor.
2 – Para os especialistas, o resultado das comunicações pode ser medido objetivamente por pesquisas amplas com consumidores e, empiricamente, por métricas que vão dos “centímetros” de prós e contras nas imprensas, até a adesão aos produtos e serviços disponíveis.
3 – Como é de amplo conhecimento, os seguros são um serviço diverso e complexo, de imensa sensibilidade econômica, política e, principalmente, social. E, também, sensibilidade emocional. Independentemente de dados incontroversos sobre os bilhões de reais dispendidos para amparar a população que a ele recorre, sempre há alguém a contar alguma história triste sobre algum problema dele, de parente ou amigo, ou conhecido.
3 – Evitarei falar de minha experiência pessoal (quem olha para trás vira estátua de sal…), mas não posso deixar de lembrar, desde os idos de 1994-1995, ainda na Susep, quando fiquei rouco de interagir com jornalistas e agentes públicos, para explicar, informar, argumentar… Depois, foi o mesmo na Fenaseg, na FenaSaúde e na CNseg. Agora, até por conta de uma maior exposição (crescimento) setorial, as representações institucionais e as companhias seguradoras individualmente estão a empreender uma saga de grande importância para a comunicação.
4 – Mas, como é que comunica? Entendo que não há empreitada “disruptiva” ou bala de prata. São muitas as frentes e tarefas. Desde a principal – os indivíduos, famílias e empresas contratantes de seguros gerais, vida, previdência privada, capitalização e seguros e planos de saúde -, até os espaços institucionais habitados por quem decide sobre os destinos sustentáveis do setor: os poderes Executivo, Legislativo, Judiciário e Ministério Público. E os veiculadores de informações e avaliações: mídias sociais, imprensa tradicional, organizações de consumidores, pelo menos estas.
5 – A enxergar o que se passa nesses espaços, parece que a principal comunicação deve ser a da educação e transparência. Não uma educação formal, acadêmica, mas uma saga permanente de disponibilização e acumulação de conhecimentos úteis que possam servir como alavanca para que o consumidor possa fazer escolhas e julgamentos que verdadeiramente aproveitem. Basta lembrar o sistema financeiro (os bancos e congêneres). Que saiu das páginas das reclamações para as páginas dos serviços. A busca, na internet, do termo “pix” ilustra bem o que pretendo “comunicar” aqui. Sobre a transparência, sejamos objetivos: mais do que mostrar virtudes, é reconhecer erros, problemas e dar soluções.
6 – Mostrar que a solidariedade e o mutualismo (que é o mesmo) não se resume a um conceito abstrato, mas a uma ferramenta de utilidade social.
7 – Vejo na nossa atualidade uma frente antifraude. Muito bom, ótimo. É uma ralo de milhões de reais que prejudica a mutualidade. Embora, convenhamos, parece uma comunicação pelo seu contrário. Deixa de evidenciar as virtudes da solidariedade para tentar mostrar a falta dela. Apenas como reflexão, talvez melhor indagar aos cidadãos se eles se enxergam nos milhões de fraudes frente aos bilhões que pagam para ter benefícios. Como se enxergam, nesse ambiente de fraudes e abusos.
8 – Volto ao início. Como é que comunica? Os especialistas devem saber, ou, pelo menos, estão aprendendo com as reconhecidas e insistentes iniciativas que se avolumam mais recentemente. Se posso contribuir com elas é aplaudindo e chamando a atenção para a humildade que deve pautar a relação com formadores de opinião (imprensa etc.) e com quem interessa, quem compra os produtos e serviços dos seguros.