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Opinião

Caminhos para um sistema de saúde sustentável

09 de junho 2023 Newton Quadros

A coordenação do cuidado, integrada com assistências terciária e quaternária, gera melhores resultados assistenciais e reduz o custo desnecessário, ao contrário do modelo excessivamente hospitalocêntrico

Com uma população de 213 milhões de habitantes em 2022 (IBGE), o Brasil alcançou a marca de 50,5 milhões de pessoas inseridas no Sistema Suplementar de Saúde, ou seja, cerca de 24% da população (Agência Nacional de Saúde Suplementar, ANS, janeiro de 2023). São 162,5 milhões de pessoas atendidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A divisão orçamentária destes dois segmentos demonstra a assimetria existente: o SUS tem um orçamento de R$ 146 bilhões para 2023, enquanto o Sistema Suplementar de Saúde deverá apresentar um gasto aproximado com despesas assistenciais de R$ 206 bilhões no mesmo ano. Observando as tendências econômicas para 2023, a inflação e os juros deverão permanecer em patamares elevados, combinando com uma desaceleração econômica mundial.

Em analogia às tempestades meteorológicas mais severas, que são o resultado de uma combinação complexa e específica de fatores, podemos pensar que o futuro próximo do sistema de saúde brasileiro parece estar exatamente neste contexto. Estamos caminhando para uma tempestade perfeita? Não se trata apenas da fonte de financiamento dos setores público e privado, mas também dos modelos de gestão e de negócios adotados, do baixo uso da tecnologia, de ações incipientes de interoperabilidade de dados e informações, necessidade de melhores processos de comunicação e cooperação entre os agentes dos sistemas público e privado, de um plano de desenvolvimento, numa ótica mais voltada para a cooperação entre os integrantes do sistema de saúde.

Neste contexto desafiador, podemos olhar para o tema eficiência operacional, seja no ambiente interno operacional, seja no externo operacional, como uma das ações estratégicas efetivas para fortalecer o sistema de saúde. Quando olhamos para dentro das empresas e dos grupos econômicos que atuam no setor saúde, percebemos uma avenida de oportunidades de melhorias de desempenho e, consequentemente, redução de custos desnecessários, vital para a sustentabilidade no longo prazo. No setor público, a opção pelo modelo de concessões (Lei federal n.º 8.987/95) e de Parcerias Público-Privadas (PPPs) mostra-se como uma alternativa viável para a oferta de estruturas de saúde de qualidade para a população, com a participação do setor privado monitorada pelo governo e pela Lei n.º 8.666/93, a Lei das Licitações.

A coordenação do cuidado, integrada com assistências terciária e quaternária, gera melhores resultados assistenciais e reduz o custo desnecessário, ao contrário do modelo excessivamente hospitalocêntrico. A grande cirurgia ambulatorial nos EUA, por exemplo, reduziu os custos em mais de 30%, segundo o sistema público Medicare. No Canadá, 83% dos procedimentos cirúrgicos já são realizados em Ambulatory Surgery Centers (ASC). O processo de “desospitalização” teve início na década de 1970 nos EUA, que hoje conta com cerca de 6.500 unidades de cirurgias ambulatoriais. No entanto, aqui, no Brasil, estamos a dar os primeiros passos mais estruturados. Faltam regulamentação, prioridade do poder público, dados confiáveis e adequado entendimento, pelo setor privado, dos benefícios técnicos e financeiros dessa modalidade de serviço.

A saúde é essencial e prioritária. Repensar, inovar, assumir riscos e cooperar são ações indispensáveis para enfrentar os desafios do presente e do futuro. É necessário desenvolver um sistema de saúde sustentável, com qualidade de entrega assistencial para a população e racionalidade em suas estruturas. Afinal, todos somos usuários e precisamos que o sistema funcione adequadamente.

Referência: Estado de São Paulo